Sejamos tristes!

(PDPics/ Pexels)
Marcelo Zorzanelli

Não sei como chegamos à conclusão de que o objetivo da vida é a felicidade.

Deve ter sido algum filme que passou na Sessão da Tarde quando éramos crianças.

Após alguns meses de textos sobre depressão, ansiedade, suicídio, insegurança, masculinidade tóxica e uma dolorosa incursão na psicologia da campanha política de 2018, tenho achado cada vez mais difícil achar definição que preste para a palavra felicidade.

Digo isso porque quanto mais estudo psicologia, filosofia, religiões orientais, literatura médica, etc, mais chego perto da conclusão de que a busca implacável por esse estado exaltado que chamamos felicidade é uma usina de miséria e decepção.

A tristeza é familiar, calma, plácida, cheia de dignidade. Tenho a sensação de que o que convencionou-se chamar de tristeza na verdade é o estado natural do ser humano. Somos tão pessimistas que chamamos a marcha do carro que não faz nada de “ponto morto”. Podia ser “ponto OK”, “ponto tranquilo”, “ponto beleza”.

Pensei em exaltar a tristeza depois de me sentir paralisado na hora de achar assunto.

Não que eu tenha a ilusão de que já falei tudo o que poderia ser dito sobre saúde mental até agora. Meus queridos desajustes emocionais não me levaram tão longe no caminho da megalomania. Pelo menos não por enquanto.

É que, no meio dessa dúvida, uma ideia me ocorreu. Não é a melhor ideia que já tive, e com certeza não é a pior. (Qualquer amigo que conviveu comigo nos meus 20 e poucos anos pode atestar que minhas piores ideias foram concebidas durante a madrugada na rua Augusta).

O que eu quis dizer é que às vezes empaco ao escrever porque sinto o peso do mundo de dor e confusão que traz o leitor até aqui. Recebo centenas de e-mails com histórias mais ou menos parecidas. Todo mundo fala em querer ser “feliz” e do peso que é atrapalhar a “felicidade” dos outros.

Por fim, a expectativa que acabo impondo sobre meu próprio trabalho acaba sendo parecida com a que família e amigos põem sobre o pobre do leitor.

Vi aí uma analogia entre a busca da felicidade e o perfeccionismo.

Perfeccionismo, algo que foi glamourizado pela arte e pela imprensa como marca do criador, não passa de um sintoma clássico de estados emocionais fragilizados.

Não existe nada perfeito, pelo menos não que um ser humano consiga fazer: o perfeccionismo é só mecanismo de defesa de um ego inseguro, uma estratégia ineficaz para ter controle sobre a ansiedade.

Querer felicidade o tempo, extirpar a tristeza da própria experiência: não é isso a forma suprema do perfeccionismo? Esconder o feio e mostrar o bonito é o trem bala sem escalas para a estação da loucura (ou coisas piores).

A tristeza talvez seja um estado de espírito agradável se você considerar que nossa ideia de felicidade está ligada à satisfação de desejos sensoriais ou a fantasias de poder absoluto do ego.

Moral da história: não escrevi um texto perfeito, saiu um troço meio triste do ponto de vista da graça e do apreço estilístico; mas, se você chegou até aqui, é porque funcionou.

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Críticas e sugestões: marcelinho@gmail.com