Depois de quase ir para o buraco, príncipe Harry faz campanha pela saúde mental
Não sou muito a favor dos príncipes. Nem saberia o que fazer caso um atravessasse o meu caminho. Sei de muita gente que sonha com príncipes, mas não é particularmente o meu caso.
Porém, calhou de um exemplar britânico, Harry, ocupar o noticiário do fim de semana com a avidez que o PMDB preenche ministérios.
Casou-se com a atriz americana Meghan Markle numa cerimônia com negritude o suficiente para desmoralizar algumas gerações de socialites deste nosso país preconceituoso. Markle, mestiça, é filha de uma enfermeira negra especializada em cuidar de pessoas com transtornos mentais.
Para mim, o destaque foi um coral de soul music cantando “Stand By Me”, música que simbolizou a aproximação das duas culturas. (Para quem não sabe, a balada já fazia muito sucesso na voz do autor, Ben E. King, um negro da Carolina do Norte, dono de cabelo black power e voz doce, antes de John Lennon gravá-la).
Teve também uma deliciosa polêmica: se Harry, o mais humano dos filhos da casa de Gales, disse ou não “I’m shitting it“, ao levantar o véu da noiva. A tradução seria algo como “estou me cag***do de medo”.
Enfim, meu desejo é lembrar que depois de alimentar os tabloides ingleses com peripécias cada vez mais perigosas durante anos, Harry foi cuidar dos demônios em sua cabeça há alguns anos: passou a tratar de sua saúde mental com a ajuda de profissionais.
Para quem não se lembra: em 2005, apareceu numa festa de Halloween com um uniforme nazista e enfureceu o planeta. (Lembra de quando isso acontecia? Saudades daquele tempo). Depois, entrou para o exército e se jogou na campanha do Afeganistão com o que um autor mais sofisticado chamaria de “selvagem abandono” (dizem que ele chegou a colocar colegas em perigo). Em 2012, se perdeu numa prodigiosa baderna em Las Vegas e foi fotografado como veio ao mundo enquanto jogava o nobre “billiard” com moças também em pêlo. Seu companheiro nestas orgias foi o notório Ryan Lochte, o mesmo cavalheiro que viria fingir ser assaltado na Olimpíada de 2016, no Rio.
No fim do ano passado, Harry disse em entrevista que sempre se sentiu “no limite para socar a cara de alguém” durante eventos oficiais da realeza.
Perder a mãe tão cedo e crescer sob o escrutínio do mundo o deixou “muito perto de um colapso nervoso completo”.
Após aprender a falar com honestidade sobre os próprios sentimentos, Harry disse que quer colocar “sangue, suor e lágrimas” em ajudar outros na mesma situação.
Pois foi lá e fez: no fim do ano passado, lançou uma campanha chamada “Heads Together”, ou “cabeças juntas” em tradução livre.
“A mensagem aqui hoje é que qualquer um pode sofrer de transtornos mentais”, disse no lançamento, acompanhado da cunhada Kate e do irmão William, creditado como a pessoa que o “arrastou” ao consultório de um terapeuta.
Lady Gaga, que discute publicamente sua batalha contra ansiedade e depressão, foi uma das primeiras a aderir à campanha.
“A experiência que tive é que, uma vez que você começa a falar sobre seus problemas, você percebe que faz parte de um clube muito grande”, disse.
Ele também deu uma dica preciosa: “O seu tempo precisa estar correto. Você precisa sentir que precisa buscar ajuda e encontrar a pessoa certa para falar”.
Diz o texto no site da campanha, assinado por Kate, William e Harry: “Muitas vezes, as pessoas ficam com medo de admitir que estão tendo dificuldades com sua saúde mental. O medo do preconceito e do julgamento alheio pode destruir famílias e terminar vidas. ‘Heads Together’ quer ajudar as pessoas a se sentirem confortáveis na busca pelo bem estar mental diário e dar as ferramentas práticas para dar suporte a famílias e amigos”
Só para lembrar: no Brasil, nosso príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança disse que “nunca autorizaria” um casamento como o de Megan e Harry. Outro príncipe brasileiro, um Luiz Philippe de Orleans e Bragança, é candidato a deputado federal no partido de Jair Bolsonaro.
Tenham todos uma ótima semana.